Alimentação - Na Rota do Chá

O chá, hoje uma designação genérica, é, depois da água, a bebida mais consumida em todo o mundo. Faz parte de rituais, da medicina caseira e é complemento dos aconchegos da maioria dos povos. Cada variedade adquire um determinado sabor, em função da graduação das folhas e do processo de produção, que pode incluir oxidação, fermentação e o contacto com outras ervas, especiarias e frutos. Em Portugal, temos o famoso chá de limão, obtido a partir da casca desse mesmo fruto, também conhecido nalgumas regiões de Itália, onde dá pelo nome de canarino.
O chá preto, considerado o mais antigo, foi descoberto na China há quase 5.000 anos. Segundo as lendas chinesas mais populares, a descoberta do chá e das suas qualidades benéficas data do ano 2737 a.C. O imperador Shen Nun, conhecido pelas suas iniciativas como cientista e patrono das artes, estava a ferver água debaixo de uma árvore, quando, acidentalmente, algumas folhas caíram na água, sem que ele repara-se. Ao provar o preparado, ficou deliciado com a mistura, refrescante e revitalizante, de sabor e aroma indescritíveis, e desde então, começou a realizar várias experiências. O chá tinha sido, finalmente, criado e o seu corolário encontrado!
Do continente asiático chegam-nos outros mitos. A história em redor do príncipe Darma é, em grande medida, bizarra. Adormeceu enquanto mediatava e quando despertou, inconformado com o facto de ter entregue o seu espírito ao mundo dos sonhos, arrancou as pálpebras e atirou-as ao jardim. Diz-se que criaram raízes, dando, mais tarde, origem a duas plantas, cujas propriedades são manter alerta e vigilante o espírito dos mortais.
Presente em todas as culturas orientais, o chá continua a ser tomado como parte de um ritual. O seu consumo enquanto bebida social data, pelo menos, da época da dinastia Tang. Os primeiros europeus a contactar com o chá foram os Portugueses que chegaram ao Japão em 1560. O uso do chá em Inglaterra é atribuído a Catarina de Bragança, filha de D. João I, e pode ser situado temporalmente por volta de 1660. Entre os seus dotes, a princesa portuguesa, que veio a casar com Carlos II de Inglaterra, levou uma arca cheia de chás da China, instituindo o seu consumo na corte, através de Tea parties.
Inicialmente apreciado pelas mulheres, o chá rapidamente se tornou também do agrado masculino. Era bebido em cafés e o seu consumo foi crescendo desde o final do século XVII, sendo bebido a qualquer hora do dia até o início do século XIX, quando a tradicão chá da tarde (five o'clock tea) foi instituída pela sétima Duquesa de Bedford, em Londres.
No século XVII, a Inglaterra trouxe, então, para a Europa os chás da China, motivada, segundo alguns estudiosos, pela escassez do café no mercado mundial. Nesta época, o chá era usado apenas como bebida aromática, os seus efeitos terapêuticos ainda não eram conhecidos e apenas as classes mais altas da sociedade tinham acesso a ela, devido ao seu elevado valor. No século XVIII, devido a diminuição de impostos e ao aumento das regiões produtoras de chá em todo o mundo, tornou-se um produto barato e acessível às classes mais baixas da população. Rapidamente a sua popularidade se fez notar.
Desde a descoberta do chá como bebida aromática até os dias de hoje, muitos estudos foram feitos para comprovar as suas propriedades farmacológicas. Os índios deram um enorme contributo para os estudos sobre os chás, devido ao seu vasto conhecimento sobre plantas e ervas, que eram e são usadas ainda hoje, na medicina indígena. Há infusões de plantas que têm uma acção calmante, outras diurética, outras ainda digestiva. Sendo o único alimento sem contra-indicações para pessoas saudáveis, o chá contém flavonóides, que agem como antioxidantes – e vários estudos mostram que estes componentes podem ajudar a prevenir o aparecimento de várias doenças. Recentes pesquisas mostraram uma associação entre o consumo de chá e uma redução do risco de doenças do coração. Por outro lado, algumas descobertas sugerem que a ingestão de chá tem um papel importante na prevenção de várias formas de cancro.
O chá contém ainda cafeína, um estimulante activo e habitual causador de bem-estar, embora a infusão de chá verde ou preto contenha menos cafeína do que o café. Note-se, no entanto, que se consumirmos elevadas doses de chá com cafeína por dia, podemos vir a ter sintomas como irritabilidade, insónia, palpitação cardíaca ou tonturas – no fundo, como em tantos outros casos, é no meio que se encontra a virtude.

Texto: Joana Clara

0 comentários:

Enviar um comentário