Sexualidade e comportamento - 21 Queer!


«We're Here! We're Queer! Get used to it!»
Miss Jane Sheehan da organização Queer Nation (São Francisco)


Aos 21 anos descobri, entre tantas coisas maravilhosas que vêm com o final da licenciatura [incerteza, falta de perspectivas, medo, terror, pandemia...], que sou queer.

Sempre fui estranha, é claro. Na escola era ostracizada por usar óculos, gostar de estudar e ser, inevitavelmente, estranha. Do tipo falar sozinha estranha, representar histórias inventadas no recreio estranha, não gostar dos meninos louros com olhos azuis por quem todas as meninas suspiravam estranha.

Mais tarde descobri a música melancólica/gótica/tenebrosa e como era estranha, adorei-a e viciei-me. E durante todo o tempo, passava todos os meus dias a escrever coisas igualmente estranhas, feliz da vida a criar mundos e personagens ainda mais estranhas. E lá fui tendo os meus amigos igualmente estranhos.

Aos 15 anos eu vivia nas minhas estórias e na minha escrita e não me parecia interessante ficar a olhar para os rapazes nos intervalos, pensar em festas e roupas destinadas a esses mesmos rapazes que me pareciam tão aborrecidos como … bom, ocupar um segundo do meu dia a pensar nisso não me passava pela cabeça.

Passei pela adolescência como ovelha negra da família - vestia-me de preto, tinha uma religião diferente, dizia tudo o que pensava e discutia com toda a gente - (escusado será dizer que continuo a manter o cargo, com brio) e um dia decidi namorar com um rapaz, para experimentar. Ele traiu-me passado pouco tempo, se calhar também para experimentar. O tempo passou.

Nunca tinha achado estranho gostar sempre mais das actrizes que dos actores. Nunca tinha achado estranho decorar as paredes do meu quarto com posters de cantoras e não cantores. Nunca tinha achado estranho gostar mais de girls bands do que boys bands.

E na verdade, não havia nada de estranho. Um dia, numa aula, descobri que era bissexual. E tudo fez sentido.

Hoje defino-me como bi. Só namorei com rapazes. Mas gosto mais de raparigas. Demoro muito mais tempo a gostar de um rapaz que de uma rapariga. No entanto, imagino o meu futuro como me ensinaram a imaginar: com uma casa minha e um homem ao meu lado. E isso, sim, é verdadeiramente estranho.

Fotografia é da autoria de ©Beklagen (http://beklagen.deviantart.com)

1 comentários:

Daniel Cardoso disse...

Pouco a pouco lá se vai indo, desmanchando e refazendo uma parte de cada vez. Porque partes a mais ao mesmo tempo, também faz confusão.
;)

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