Viagens - “A vila dos mil Amores”

O «ninho de amores [onde] sob as românticas ramagens as fidalgas se abandonavam nos abraços dos poetas (...) os passeios em Seteais ao luar, devagar, sobre a relva pálida, com grandes descansos calados no Penedo da Saudade, vendo o vale. No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor»

Eça de Queiróz (Os Maias)




Em Portugal não há nenhum lugar parecido com Sintra. Na Europa, e mesmo em todo o Mundo, torna-se difícil encontrar um paralelo exacto.
Sintra e a sua Serra são, verdadeiramente, únicas. Belas e únicas.
É esta singularidade que alicerça a celebridade de Sintra, o seu renome internacional entre poetas, artistas e pensadores. A sua diferença repousa na excepcional fusão entre a Natureza e os antigos monumentos.
Sintra, com a sua imponente serra salpicada de palácios, igrejas e quintas senhoriais, estende-se em “ondas” de verde até ao oceano, o fascínio dos aglomerados urbanos da Vila Velha, da Estefânia e das aldeias que dão colorido à charneca saloia, constitui, sem dúvida, um local privilegiado por excelência de inegável beleza e interesse cultural e natural.
De facto, o concelho de Sintra apresenta uma situação ímpar no tecido histórico e geográfico de Portugal, pois, a juntar ao majestoso enquadramento natural, existe nele vestígios valorosos da evolução humana em todas as fases históricas. É a Pré-História, com o fabuloso conjunto de tholoi e antas. É a ocupação romana, de que frutificam resíduos de villae senhoriais, enriquecidas por múltiplos espólios arqueológicos, em que se destaca São Miguel de Odrinhas. É a época muçulmana, que legou as azenhas, o linguajar, e, sobretudo, o Castelo dos Mouros. É a Idade Média, a fazer crescer o centro urbano de Sintra dominado pelo Paço Real, e a serem erigidas formosas igrejas de estilo gótico, como Stª Maria. É o Renascimento, com as consequências do período áureo da expansão portuguesa a fazerem-se sentir nas formosas obras manuelinas do Paço Real ou na edificação do Mosteiro de Nª Srª da Pena; é o tempo dos brilhantes saraus palacianos, onde pontificam Luísa Sigea e as representações vicentinas; é a fase das construções aristocráticas como a Quinta da Penha Verde ou o Solar dos Ribafria. É, acima de tudo, o capítulo do Romantismo, a ver nascer o Palácio da Pena - fruto dos sonhos de um rei artista, D. Fernando; as quintas de Monserrate, do Relógio e da Regaleira; os frondosos Parques da Pena e de Monserrate; enfim, um brilhante ciclo revivalista que iria transformar, de uma forma marcante e sedutora, o tecido paisagístico sintrense.Por tudo isto, acrescido dos bons ares e das brumas de indizível mistério, Sintra é, como a considerou Robert Southey, «o mais abençoado lugar de todo o globo habitável».
Não esqueçamos as areias douradas, a pureza das águas atlânticas e o recorte da costa, com arribas escarpadas de magnífico recorte, que fazem das praias de Sintra verdadeiros recantos de prazer.
Para além dos banhos e do sol radioso de Verão, as praias de Sintra ainda oferecem óptimas condições para a prática dos desportos náuticos, enquanto que as falésias propiciam aos amantes do parapente excelentes rampas de salto. A pesca desportiva, o surf e o bodyb
oard são também algumas das modalidades mais praticadas no litoral sintrense.
A qualidade da maioria das praias de Sintra é boa, quer no que respeita às análises da água, quer em relação às infra-estruturas.
Além das praias mais conhecidas, S. Julião, Magoito, Maçãs, Grande e Adraga, existem no concelho verdadeiros paraísos a não perder.
Para um povo com um passado histórico tão rico como é o caso dos saloios sintrenses, os aspectos gastronómicos adquirem um forte valor tradicional que importa preservar e fomentar. Variada e abundante, a culinária da região é capaz de fazer crescer água na boca a qualquer comensal.
Dos pratos de carne, saliente-se o Leitão dos Negrais, a Carne de Porco às Mercês, o Cabrito e a Vitela Assada. O litoral da região de Sintra, por se conservar despoluído, e abundante em peixe fino, mariscos e moluscos. Assim, é possível comer-se um apetitoso robalo ou sargo, deleitar-se com um polvo, ou saborear mexilhões e percebes.
Na doçaria o destaque vai, inevitavelmente, para as Queijadas de Sintra, doce ancestral que vem, pelo menos, da Idade Média. Todavia, outros há que merecem ser provados.
Os Travesseiros, os Pastéis da Pena, as Nozes de Galamares, os Fofos de Belas, a par de um conjunto de compotas tradicionais fabricadas segundo métodos muito antigos.
A acompanhar qualquer refeição, indispensável é o Vinho de Colares, sobretudo a sua famosa casta Ramisco, um dos primeiros da carta de vinhos de Portugal.
Sintra é um daqueles lugares mágicos onde a natureza e o homem se conjugaram numa simbiose perfeita, como que a quererem deixar-nos surpreendidos, rendidos à beleza da obra.
Resumindo, Sintra é um lugar para se sentir. Não basta falar dele, contar a sua História ou descrever a sua paisagem. É um lugar com espírito, um lugar que nos fala por dentro.


Texto e Fotografias: Ana Raquel Justino Cabaço

2 comentários:

Ana Rita Correia disse...

Realmente Sintra é um lugar perfeito.
Muito bem menina :) o texto está excelente

Ana Simoes disse...

A descrição que fizeste sobre Sintra esta excelente mesmo.
Eu sou suspeita, ao dizer que tudo o que escreveste é verdade, até porque eu moro em Sintra, mas a realidade é mesmo essa. Não ha outro lugar igual e tão perfeito como Sintra o é.

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